Nos últimos nove anos, na 65|10, trabalhamos com a missão de criar pontes entre os espaços de poder e as mulheres que criam às margens desse universo. Para falar sobre essa experiência, subi ao palco do Web Summit Rio acompanhada de duas mulheres inspiradoras de nossa rede: Mayara Penina, editora-chefe do Nós, Mulheres da Periferia, e Carla Lemos, uma pioneira na produção de conteúdo sobre moda para apresentar o painel Criando a Partir das Margens.
Essas margens são vastas e abrangentes. Eu costumo dizer que a maior parte do Brasil é s margens, e a maioria esmagadora dessas margens é composta por mulheres. Mesmo com os esforços empreendidos nos últimos anos pelos grupos minoritários, os centros de poder e riqueza ainda estão predominantemente nas mãos de homens brancos, heterossexuais, cisgêneros e ricos, enquanto uma multidão é deixada de fora das tomadas de decisão.
Se você é mulher, já está automaticamente nas margens. Se é negro, LGBTQAP+, pessoa com deficiência, idoso ou criança, existem muitas condições, tanto simbólicas quanto materiais, que o excluem dos espaços de poder. Além disso, existem também as margens geográficas: as periferias urbanas, zonas rurais, o interior do Brasil, territórios indígenas e quilombolas.
No entanto, é nesses espaços, nessas brechas, que encontramos a verdadeira essência da criatividade: nas festas populares, na moda das ruas, na tradição oral das histórias contadas. Não estamos romantizando a falta de recursos, mas é inegável a quantidade de criatividade e soluções que surgem das margens. Imagine o que essas pessoas poderiam realizar com os recursos e acesso disponíveis nos centros de poder.
Hoje, existe um abismo significativo entre como as pessoas se veem, se comportam, consomem e se divertem, e como o mundo corporativo as percebe. Para ilustrar, o "65" em nosso nome vem de uma pesquisa de 2013 do Instituto Patrícia Galvão, que indicava que 65% das mulheres não se identificavam com a forma como eram retratadas na mídia. Esse abismo só cresceu, pois uma pesquisa mais recente revelou que agora são 85% que não se identificam. Acreditamos que isso esteja intimamente relacionado com o outro número em nosso nome, o "10", que refere-se ao fato de que em 2015 apenas 10% dos criativos nas agências de publicidade eram mulheres. Embora esse número tenha aumentado para cerca de 25% atualmente, ainda está longe do ideal, especialmente quando consideramos a falta de diversidade racial nesses números.
Criar a partir das margens não é apenas sobre inclusão, mas também sobre reconhecer e valorizar a riqueza de perspectivas e criatividade que surgem desses espaços. Na 65|10, estamos comprometidas em amplificar essas vozes e criar um futuro onde todos tenham a oportunidade de participar e prosperar.
Thais Fabris - criadora da 65|10
Não andamos sós
E ao subir ao palco do maior evento de inovação e criatividade do mundo, levamos uma mulherada com a gente. Conheça a lista de 10 mulheres que estão criando projetos incríveis a partir das margens, uma curadoria de 65|10, Nós Mulheres da Periferia e Carla Lemos.
Tem 20 minutinhos?
Então passa um café e vem ver o vídeo do nosso painel na íntegra.